sábado, março 11, 2006

(Very) Old Thoughts

Aliviadamente, encontrei o que havia escrito há anos atrás e que já julgava perdido no meio da confusão de papéis que é o meu quarto. Este foi um primeiro impulso que tive à noite, deitado no chão junto à varanda para poder aproveitar a luz que vinha da rua para me mostrar o papel e o caminho que o lápis descrevia.


Fogo (Duarte Costa, 1998)

Há um fogo dentro de mim
Que não se apaga com um beijo.
Um fogo que se acendeu
Graças a um desejo.

Mas porém, quando te afastas
Esse fogo não se apaga.
E vive de novo
Como uma enorme vaga.

E sou assim consumido
Pela ardente chama
Que faz os mortos acordarem
E os vivos se apaixonarem.

Quem és tu, ó chama falsa
Que me fazes deambular?
Fazes-me querer ter coisas que não posso
E alguém para amar.

Mas graças à minha triste sorte
Não posso, com quem quero, estar
Serei eu uma besta feia
Ou apenas um insignificante
A quem não deram o prazer de desprezar?

Só o justo merece tal sorte
(Serei eu justo para a ter?)
Pois os não merecedores,
Em toda a História
Nada fizeram para possuir
O que aos outros, por sentimento
Se devia atribuír.

Para quê viver?
Se as superioridades que os viventes criaram
Nos destinam a morte,
Só a morte por certo,
Num caminho ingrato de percorrer.

Tanta coisa para... nada.
Só há uma satisfação:
Para além da morte, a paixão!
Paixão que nos mata mais que a morte,
Pois nos obriga a viver.

Quem vive sem paixão
Está prestes a morrer.
Mas quem vive tamanho amor
Está morto com certeza,
Pois é impossível tanta beleza
Numa vida de fraqueza.

E assim te entrego na mão
Uma vida de solidão.

Este texto foi escrito para uma pessoa muito especial naquela fase da minha vida e que, após recente reencontro, confirmei que será uma pessoa sempre importante para mim, independentemente dos cruzamentos que tenhamos durante as nossas vivências. Um beijo forte para a M.