sábado, maio 26, 2007

Acordar a sonhar

Hoje acordei de uma forma muito estranha... Acordei com a cara encostada à almofada, de lado, a cuspir para a fronha e para o lençol. Quem me visse pensaria que tinha apanhado um pifo na noite anterior e que estava prestes a mandar tudo para fora, mas a realidade é que estava a sonhar. O sonho foi bastante estranho, longo e com várias narrativas misturadas (como costuma acontecer em alguns dos meus sonhos).
Na parte final, antes de começar a despertar, tinha ido usar um tubo de super-cola para colar uns papéis que faziam de lentes numa armação de óculos que serviam apenas como decoração em casa da mulher do meu pai. Para fazer uso da super-cola, e porque tinha as mãos ocupadas com os papéis e a armação, e a cola está num armário no meio do corredor sem sítio para pousar as coisas, tive de me socorrer da boca. Assim sendo, peguei no tubo com a mão que tinha a armação, meti a tampa do tubo à boca e girei para abrir. Apliquei um pouco de cola nos papéis que estavam na outra mão, mas como toda a gente que já usou essas colas sabe, não é linear reter a cola na quantidade desejada nem evitar que surjam fios de cola entre o tubo e a superfície onde esta foi aplicada. E foi isso que me aconteceu: uma mão com a armação e o tubo, outra mão com os papéis com cola a mais onde não devia, um fio a ligar os dois conjuntos e a tampa na boca. O instinto foi então tentar rapar algum do excesso de cola nos papéis com o tubo e avançar com a tampa para o tubo o mais celeremente possível.
Claro que isto tudo me deixou com as mãos e a boca e a zona circundante cheios de restos de cola, e depois de colar os óculos à pressa, fui logo para perto de uma torneira lavar (raspar) os resquícios de cola das mãos e da face. Dada alguma experiência em raspar cola das mãos e visto que a face (boca e arredores) é uma zona bem mais crítica, resolvi avançar de imediato para a lavagem dela. No entanto, a lavagem (e raspagem) não parecia estar a ser muito bem sucedida e lembro-me de olhar em frente para o espelho e de ter os lábios todos deformados/acachapados pela cola e de ter uma espécie de ranhoca seca e brilhante de cola entre a boca e o nariz. Pensei que pelo menos não tinha ficado com a boca selada (não que se perdesse muito) mas começou a irritar-me estar naquelas figuras. E os cheiros e sabores da cola estavam a começar a entranhar-se pelo nariz e pela boca e começava a ficar insuportável para mim toda aquela invasão... Vai daí que começo a cuspir para expulsar esses maus odores e sabores; a cuspir para a esquerda, a cuspir para a direita; tentando ir buscar à saliva o odor da cola que insistia em se fazer sentir... mas não era com sucesso que isso acontecia. E por isso cuspir tornou-se uma coisa incessante e cansativa, mas que não podia parar. Não pelo menos até aquelas desagradáveis sensações desaparecerem. Mas elas não desapareceram, porque antes de eu ter sucesso, acordei e dei comigo a fazer aquela figura estúpida na cama. Vou ficar naquele sonho para sempre com cola na cara, a tentar livrar-me dela às cuspidelas? Espero não ter esse mau destino.
Muitas outras noites tive o mesmo tipo de experiências, de sonhos que chegavam a fases críticas e que de repente acabavam com o despertar, sem que nenhuma conclusão pudesse ser alcançada e ficando a meio de coisas que talvez fossem o mais relevante no sonho. Já consegui por vezes forçar-me a adormecer de novo e retomar o sonho, mas acho que mesmo assim a evolução deste não era tal de chegar ao ponto em que pudesse ver as letras FIM. Se calhar os sonhos que chegam ao fim são aqueles que depois de acordarmos já não nos lembramos deles; que ficam perdidos para sempre nas nossas cabeças.

Curiosidade histórica: Quando era mais novo tive uma vez um despertar causado por um sonho. Foi um sonho traquinas para mim na altura, em que eu estava a meio de uma aula de natação e comecei a ficar aflito para ir fazer xixi, só que não me aguentei e comecei a fazer dentro da piscina. Naquela altura ainda não existiam aqueles colorantes que identificavam quem urinava dentro de água, por isso não fui descoberto por ninguém, mas o que descobri foi que estava a começar a fazer xixi nos lençóis da minha cama e aí já não eram precisos colorantes nenhuns para se perceber o que eu tinha feito. Felizmente, e se a memória não me atraiçoa, acho que o derrame foi mínimo e que os danos no ecosistema circundante foram ínfimos, conseguindo as equipas de resgate encaminhar a fonte para o sanitário mais próximo.

Note - Mr David Lynch and friends, any motion picture with scenes here related must generate a revenue for the author/character of these tails.