domingo, março 19, 2006

Tiro ao lado

No seguimento do post anterior, venho aqui chorar-me pela minha falta de sorte. Então não é que na sexta feira à noite, a relatar o que relatei no referido post a um amigo, ele me diz que o lá referenciado jogão fenomenal passou no canal da memória na quinta feira! Afinal era mesmo um jogo entre o benfica e o leverkusen, mas o que eu assisti foi a primeira mão da eliminatória. O ansiado jogão foi a segunda mão, jogada na alemanha, que acabou com um empate a quatro bolas para cada lado. Fiquei triste por saber que mais uma vez perdi o jogo... sei que já tinha passado nesse canal há uns meses, voltaram a repetir a semana passada... quando (se é que o vão?) é que voltarão a passar? Tenho de estar à coca, se vir a primeira mão, no dia seguinte não perco a oportunidade. Mas a fé não é muita, e entretanto devo esquecer-me...

Ontem, e também no seguimento do post anterior, soube que um tio meu tem o DVD do Starship Troopers. Só espero não me deparar com tal objecto, senão ainda perco a cabeça. Também expliquei a situação (do fascínio incompreensível) a outro amigo meu e ele ficou parvo com tal relato. Mas é assim a vida, cheia de coisas claras como água, e outras turvas e inexplicáveis. O importante é gozá-las todas!

Faço aqui uma despedida momentânea, visto que nos próximos tempos vou estar um pouco afastado de meios que me permitam fazer uma actualização a este espaço. Não sei quando voltarei, mas prometo ser breve (o mais possível).

Ah! E se virem o jogão passar de novo no canal da memória, gravem, sff!!!

I'll see you soon.

quinta-feira, março 16, 2006

Once again in my mind through my eyes

Ontem à noite foi noite de taça de portugal, em que o benfica jogou com o vitória e o jogo foi transmitido no primeiro canal. Já no dia anterior e nessa manhã havia dito aos meus colegas que este jogo era para perder, e de facto confirmou-se o meu prognóstico. Infelizmente. Preferia acertar na lotaria ou pelo menos errar nestas previsões. Mas são assim as coisas. Felizmente, antes de me começar a entusiasmar com a bola (até estávamos a pressionar e com possibilidades de ganhar o jogo), mudei para outro canal onde fiquei frozen porque aos meus olhos se mostrou um filme que eu... gosto muito (para simplificar as coisas). Já vi o filme umas (sem qualquer tipo de exagero) quinze vezes. Sempre que o filme passa na televisão, e normalmente apanho-o por acaso, sem saber que estava na programação, fico preso a vê-lo.

O filme é Starship Troopers do Paul Verhoeven. É um filme de ficção científica razoavelmente básico, sem nenhuma mensagem subjacente fortemente marcante, basicamente um action movie com muitos tiros, muito sangue, muitos mortos (entre humanos e insectos, os dois exércitos em confronto). Mas não consigo resistir e fico sempre a assistir ao filme com uma atenção apaixonante, todas as vezes sem excepção. Acho que não posso comprar o DVD do filme senão acabava a minha vida a vegetar em frente à televisão com o disco já em chamas. Há imensos outros filmes muito mais interessantes e com uma história mais sólida e mais desafiantes mentalmente, visualmente, tudo... Este filme em muitos aspectos é tão básico e tão pobre que é um verdadeiro paradoxo este meu fascínio. Mas talvez seja por isto tudo que eu fico agarrado a ele. Ou então é tudo uma análise imensamente superficial do que se passa à frente dos meus olhos e se calhar há mesmo uma mensagem bem construída e marcante no filme. O filme está longe (muito até) de ser mau, quer a nível de realização, de desempenho dos actores ou da história, mas a ideia que tenho é que não é nada de fora do vulgar. Sinceramente não me interessa, só sei que fico especado a ver o filme, que se voltar a deparar-me com ele, hei-de ficar de novo, que isso me dará um gozo imenso e que não ficarei com qualquer tipo de remorso por estar a perder o meu tempo com um filme visto e revisto e re-revisto...

Há outro filme do género que também devoro em quantidades industriais, Dune do David Lynch. Neste aqui já vejo mais complexidade evidente, mas se calhar estou a ser engando pelo aspecto gráfico do filme ou pelo nome do realizador ou por qualquer outra coisa no meu inconsciente. Também já o vi diversas vezes e sempre com mais vontade. Tanta que caí no erro que me ia desfazendo todas as boas memórias que tenho dele. Não sou cliente de nenhum video-clube, mas a minha avó é. E quando fui uma vez passar um fim de semana com ela, fui ao video-clube dela para alugar um filme e o que é que eu vejo nas prateleiras... a sequela do Dune. Peguei nele e, tal criança maravilhada por ver um prolongamento dos seus sonhos, resolvi levá-lo para casa para me deliciar com a continuação do meu tão caro filme. Claro que não era do mesmo realizador, não eram os mesmo actores, mas resolvi dar o benefício da dúvida, abrir os meus olhos e saciar as minhas expectativas. E porquê condenar à partida um filme só porque não tem ninguém conhecido à frente ou atrás das cameras? Também existem coisas boas vindas de lugares desconhecidos. E afinal até há um nome conhecido (William Hurt). Mas o desastre não demorou muito a chegar, bastou a cassete começar a rodar. A introdução ao filme deixa adivinhar algo de menos bom, as primeiras imagens concretizam as suspeitas. O aspecto a algo próximo do grafismo das séries de televisão que passavam aos fins de semana e que tanto me arrepiava ver quando fazia zapping a meio da tarde (Xena, Hércules e afins) destruíu por completo a minha esperança de algo minimamente próximo do filme do Lynch. De qualquer forma vi o filme, tentei relacionar com o original e voltei ao video-clube para alugar a terceira parte (havia mais uma quarta). Mas a capacidade de suportar tal obra de ficção não foi mais forte que o entediamento e rapidamente caí no sono. Podia estar cansado, mas mesmo que quisesse não conseguia digerir aquela história. Fui entregar o filme, sem sequer por a hipótese de tentar ver de novo, e nem pensei no que tinha ficado por ver. Vim mais tarde a perceber que as sequelas que eu tinha alugado eram mesmo uma série de televisão compilada em vários tomos para distribuição de aluguer, que daria seguimento à história do filme, mas para mim tornou-se em algo de completamente desligado. E só esquecendo qualquer tipo de ligação entre as duas obras é que consegui esquecer as posteriores e contentar-me com o filme. E daí em diante gozo o filme como algo que tem um fim em si mesmo e que, por muito que eu deseje continuar a seguir a história que fica em aberto, deixo de lado as tentativas já feitas e fico-me pelos filmes que posso fazer na minha cabeça.

Com o gozo tirado do Starship Troopers nem me pesou a derrota sofrida (e prevista em premonições) pelo benfica, fiquei pelo sofá a ressacar do bem-estar trazido pelo filme e comecei a ver um jogo de futebol no canal da memória entre o benfica e o leverkusen, de 1994, creio. Sei que houve um jogo por volta desses anos que foi considerado um jogão fenomenal. O benfica bateu-se com uma equipa, creio que alemã, mas não sei qual, num jogo que foi um elogio ao futebol. Sei que perdi esse jogo na altura e desde então que tenho ganas de o tentar ver. Foi na expectativa de ser o que estava a passar naquela altura, que fiquei mais uma hora e tal preso à televisão. Mas pelas crónicas que recordo, foi um jogo com mais que um 1-1 no placard final, e até creio que foi jogado fora de casa, o que me leva a pensar que afinal não foi o jogo que fiquei a assistir. Continuo então em busca de apanhar esse jogo, no canal da memória, ou que alguém que o tenha gravado me empreste (sei que ouvi alguém dizer que o tinha gravado, mas já não retenho quem).

Resumindo, há coisas que podemos abdicar mesmo que pensemos que sejam fulcrais, há coisas que não nos fartamos e que nos completam de cada vez que delas disfrutamos, há outras que ansiamos mas que nos deitam tanto abaixo que mais valia termos abdicado delas, há ainda outras que perseguimos uma vida inteira mas que podemos nunca as ter.

See you soon

terça-feira, março 14, 2006

Só vê quem quer

Relativamente à noite de ontem, gostaria de poder dizer que tinha presenciado duas coisas que não contava alguma vez experienciar. Mas se o dissesse estaria a ser injusto para muitas pessoas que não o merecem.

A primeira surpresa foi assistir a um filme português com o qual fiquei francamente bem impressionado. E não seria verdadeiro se dissesse que não contava ver um filme português que me impressionasse, até porque já se fizeram muitos filmes portugueses muito bons. Mas se o fui ver era porque também me sentia minimamente cativado para tal e (por obra do marketing ou outro tipo de manobras sugestivas) por me sentir curioso com tal obra, afinal sempre teve honras de abertura do Fantas deste ano.
O filme - Coisa Ruim - encheu-me as medidas (sem transbordar por completo) ainda para mais num género pouco usual no nosso cinema - thriller. A construção do filme (argumento e fotografia) está a um nível diferente (mais agradável na minha visão) do que os nossos nos habituram na generalidade da nossa filmografia. Os desempenhos dos actores são bons*, mas isso não é nada de novo. Alguns clichés podem estar lá mais ou menos visíveis, mas haverá algum filme que os dispense? Até acho que foram aproveitados de forma inteligente.
Não me considerando um espectador muito exigente de cinema (gosto de filtrar o que vou ver, mas tudo o que vejo, assimilo sempre como mais uma visão da realidade, sem fazer grandes distinções a nível técnico, de desempenho, de edição, etc... claro que tenho opinião, mas não sou tão drástico como alguns amigos meus), mas no fim de contas posso dizer fiquei com uma boa impressão do filme.

A segunda surpresa foi, no final da sessão, ver o senhor da lanterna entrar na sala em direcção à primeira fila e ajudar um senhor a levantar-se e a sair. Nada de muito excepcional (passou-me pela cabeça que iria sair dali uma reprimenda qualquer, mas não notei nenhum comportamento estranho durante a sessão), até perceber que o espectador era uma pessoa invisual. Isto sim, não contava assistir, um cego no cinema. Tendo em conta que o filme se percebe bem pelos diálogos e sons (desconheço por completo os parâmetros mais importantes para um invisual assistir a um filme, se a lingua é um obstáculo - presumo que seja tanto como para um não-invisual) e que o enredo não se apoia em excesso de efeitos visuais, acho que o senhor terá assistido ao filme tal como eu. Talvez não tenha ficado com o coração apertado nas cenas em que a sugestão era meramente visual, mas, porventura, terá captado outras emoções que para mim são imperceptíveis.
Não podendo contar com os outros sentidos mais apurados que não desenvolvemos e que muito nos ajudariam, quão interessante poderá ser uma experiência de assistir a um filme de olhos vendados? Sem querer desrespeitar os invisuais, certo está, poderá ser uma pequeníssima amostra do que conseguimos ver sem os olhos.

Pensando bem, ainda tive outra surpresa que não contava já que viesse a acontecer. Mostraram o trailler de apresentação (sinal que irá estrear brevemente nas nossas salas) de um filme que já tinha perdido a esperança de o ver em circuito comercial. Já há mais de oito meses que vi num dos sites relacionados com o cinema em Portugal que iria estrear, sendo sempre empurrado para datas posteriores, até passar a estar sem data prevista de estreia. Mas o trailler de ontem devolveu-me a esperança de ver tão aguardado filme - Dare mo Shiranai, ou no título ocidental, Nobody Knows. Ver para crer!



* O que senti, e de novo, não gostaria de ser injusto para os possíveis visados, é que a nossa lingua falada (português falado por portugueses) não será a mais apelativa para o formato do cinema. Fiquei a pensar que os portugueses a actuarem na sua lingua, ficam muito melhor enquadrados num ambiente teatral que numa película de filme. Não sei se é por esta característica da nossa lingua que sinto mais facilidade em assistir a um filme falado em inglês, francês, castelhano, italiano, chinês, japonês, coreano, indiano, alemão, sueco, russo, brasileiro (entenda-se português falado por brasileiros), no fundo, qualquer outra lingua que não a nossa. Creio que a nossa lingua é especial, é uma lingua com um vasto leque fonético e de uma expressividade própria (se é que não têm todas?), que nos permite ter uma abordagem mais fácil a outras linguas, mas que não se torna no som mais consensual para ouvir num filme. É uma lingua mais dada a dramatismos, que são mais exacerbados nos palcos que nos filmes. Aí (diante das cameras) ficamos como que a meio tom, em surdina, ou berramos sem medida, não fazendo sentido aquela expressividade eloquoente que se utiliza e se adequa tão bem aos teatros. Não condeno por isso o cinema português, mas confesso que a minha facilidade de entrar no filme esbarra um pouco na utilização que a nossa lingua tem.

segunda-feira, março 13, 2006

Fresh Thoughts

Este nem teve tempo de amadurecer na mesa de cabeceira... Já alguém deve ter pensado algo deste género, mas ontem ao fim da noite ocupou-me a mente.

Infeliz é aquele que não descobre o caminho que percorre por já o conhecer à partida.

sábado, março 11, 2006

(Very) Old Thoughts

Aliviadamente, encontrei o que havia escrito há anos atrás e que já julgava perdido no meio da confusão de papéis que é o meu quarto. Este foi um primeiro impulso que tive à noite, deitado no chão junto à varanda para poder aproveitar a luz que vinha da rua para me mostrar o papel e o caminho que o lápis descrevia.


Fogo (Duarte Costa, 1998)

Há um fogo dentro de mim
Que não se apaga com um beijo.
Um fogo que se acendeu
Graças a um desejo.

Mas porém, quando te afastas
Esse fogo não se apaga.
E vive de novo
Como uma enorme vaga.

E sou assim consumido
Pela ardente chama
Que faz os mortos acordarem
E os vivos se apaixonarem.

Quem és tu, ó chama falsa
Que me fazes deambular?
Fazes-me querer ter coisas que não posso
E alguém para amar.

Mas graças à minha triste sorte
Não posso, com quem quero, estar
Serei eu uma besta feia
Ou apenas um insignificante
A quem não deram o prazer de desprezar?

Só o justo merece tal sorte
(Serei eu justo para a ter?)
Pois os não merecedores,
Em toda a História
Nada fizeram para possuir
O que aos outros, por sentimento
Se devia atribuír.

Para quê viver?
Se as superioridades que os viventes criaram
Nos destinam a morte,
Só a morte por certo,
Num caminho ingrato de percorrer.

Tanta coisa para... nada.
Só há uma satisfação:
Para além da morte, a paixão!
Paixão que nos mata mais que a morte,
Pois nos obriga a viver.

Quem vive sem paixão
Está prestes a morrer.
Mas quem vive tamanho amor
Está morto com certeza,
Pois é impossível tanta beleza
Numa vida de fraqueza.

E assim te entrego na mão
Uma vida de solidão.

Este texto foi escrito para uma pessoa muito especial naquela fase da minha vida e que, após recente reencontro, confirmei que será uma pessoa sempre importante para mim, independentemente dos cruzamentos que tenhamos durante as nossas vivências. Um beijo forte para a M.

New Thoughts

Estes são mais recentes e por isso tiveram de ficar uns tempos a marinar na minha mesa de cabeceira.


Olhar (Duarte Costa, 2006)

Quem me dera de ti receber
Aquele doce olhar apaixonado
Que abraçaria o meu coração acelerado
Que do teu amor por mim mal vê.


Sonhar (Duarte Costa, 2006)

Que mal que me faz contigo sonhar.
Por melhor que sejam os sonhos,
Mais longe ficam de os alcançar.
Se tristes estes se revelam,
Mais eu tenho a recear.


Pulsação (Duarte Costa, 2006)

O meu coração bate por ti,
Ao ritmo de um comboio incessante
Ao passar pelo entroncamento das linhas da vida
Que tem e que quereria percorrer.

quinta-feira, março 09, 2006

Bandeirada

Em seguimento ao post anterior, veio-me à cabeça um pensamento que nunca me tinha surgido.

Pus-me a reparar nas bandeiras dos principais partidos representantes dos nossos desejos eleitorais e analisei (de ânimo leve e de forma muito subjectiva e que a maioria poderá discordar facilmente) os simbolos lá representados. Estranhamente, nem com os cartazes sobre a exposição da Casa de Serralves presente na casa dos nossos representantes esta ideia se me pôs.
A ideia base é que, em todas as bandeiras existem símbolos pontiagudos, potencialmente agressivos.
Não me questiono da potencial estratégia de marketing subjacente a cada uma, ou das fundamentações ideológicas ligadas a cada corrente de pensamento político (se é que as há hoje em dia?); estou simplesmente interessado em 'ver' os símbolos que lá estão e de certa forma moldá-los para confirmar a minha ideia.

Começando pelo mais evidente, mas se calhar menos caché. O partido da foice e do martelo. São símbolos que já vêm de longa data e que representam de certa forma o ideal subjacente às origens do partido em questão. Tendo origem num tempo em que muitos dos ideais políticos começaram a criar raízes, estes símbolos terão mais significado que os restantes a nível ideológico, e por isso disse que serão os que menos escondem. Geometricamente são de facto símbolos pontiagudos (pelo menos a foice) e que mostram alguma agressividade (luta de classes e por aí fora).

O partido dos democratas-cristãos tem como símbolos na bandeira, um círculo e duas setas apontadas a este. São inequivocamente objectos pontiagudos, à primeira vista não são agressivos mas também não sei o que possa significar aquela disposição espacial das setas (normalmente indicam um sentido ou uma orientação).

Os sociais-democratas têm como bandeira uma seta em sentido ascendente (antes eram três setas paralelas, mas com a modernização foi estilizado o símbolo, perdendo-se com isso associações que facilitavam a vida a muito boa gente que vulgarmente as identificava como 'as chaminés'). Mais uma vez as setas presentes na simbologia partidária (e mais uma vez me interrogo do seu significado, se bem que a ideia de indicar um sentido seja mais legível aqui que no outro caso).

Os 'gajos' do partido actualmente no governo são os que mais disfarçados estão. Têm como símbolo a rosa, à primeira vista um símbolo nada agressivo, que transmite uma ideia serena e de harmonia. Podem perguntar com legitimidade: Sinais de símbolos pontiagudos, estão então onde? Dir-vos-ei que estão na própria rosa - os espinhos! Como é de conhecimento comum, (quase) todas as rosas têm espinhos, algo que a maioria de nós já sentiu na pele. É claro que é uma ideia rebuscada e muito escondida, mas como disse de início, tentei moldar os símbolos ao meu propósito. Quanto à agressividade, de facto não leio muita agressividade no símbolo (tirando a razão biológica para as rosas terem espinhos - defesa própria), mas também não nos esqueçamos do símbolo antigo, o punho erguido, esse sim cheio de força e de agressividade (pontiagudo seria se as unhas estivessem crescidas).

Os que se juntaram em bloco canhoto, parecem escapar à primeira vista desta análise, mas fazendo um exercício imaginativo, aquele boneco deles tem uns membros pontiagudos. Se imaginarmos pegar nele, só pela cabeça é que não nos picávamos.

No fim de contas, a única malta que não mostra símbolos pontiagudos ou agressivos no seu estandarte partidário (com assento na Assembleia) é a malta do partido ecologista. Pelo menos ainda não fiz nenhum exercício mental para descobrir pontas ou agressividade num girassol (se bem que agora vendo bem... os girassóis crescem para o alto em proporções maiores às das plantas circundantes para poderem captar melhor a luz solar - agressividade clara em relação à vizinhança; e estão sempre orientados para o sol - o que sugere seta e por si, pontiagudo... très caché!!).

Nunca entendi muito bem estas politiquices...

quarta-feira, março 08, 2006

Ai Portugal, Portugal...

Dez anos depois e à segunda tentativa, vamos finalmente e infelizmente entrar nas silvas!

Espero que não fique muita gente arranhada!

Se bem que as rosas também têm espinhos...

Viver neste país é uma sangria desatada! Sangram-nos por todos os lados, mas nós é que plantamos as rosas e as silvas nos jardins por onde passeamos. Depois não nos podemos queixar que ficamos arranhados com tanto espinho!

terça-feira, março 07, 2006

Thoughts

Os pequenos textos que seguem foram escritos maioritariamente à noite no meu quarto, estando a cabeça e/ou o coração longe de lá. Já pensei numa pequenina edição artesanal deles compilados, mas por enquanto ficam-se por aqui pelo cyber-espaço. E falta-me ainda encontrar os mais antigos... ficará para outra oportunidade.


Quero (Duarte Costa, 2005)

Quero diluir-me no ar como uma brisa.
Quero que a vida passe por mim e não pare.
Quero que a dor me trespasse e não fique.
Quero que o amor me envolva e não murche.

Quero deitar-me contigo no leito do rio,
Abraçar-te com força, sentir o frio
E deixar-nos fugir para o vazio.


Aurora (Duarte Costa, 2006)

Apetece-me envolver-te nos meus braços
E renascer do calor do teu corpo.
Sentir o teu rosto suave,
Na aurora desta nova vida.

Mas a noite ainda é longa,
E só às vezes é que o dia nasce por acaso.


Saudades (Duarte Costa, 2005)

A todos os que me conheceram,
Quero ser invisível,
Inodoro,
Intangível!
Nem mera recordação,
De nenhum ou qualquer tamanho.
Pois os que foram, já lá vão
E de mim saudades só eu tenho.


Ser (Duarte Costa, 2005)

Eu sou tudo e sou nada.
Sou como tu, sem ter nada a ver.
Sou como uma gota de chuva isolada
Que quando cai no mar só pode desaparecer.



New Day (Duarte Costa, 2006)

It's the beautifull sunshine of the spotless sunrise!
(Esta frase veio-me no amanhecer do dia de carnaval, quando por volta das 07:30 saí da discoteca e fui a caminhar para o carro, podendo gozar plenamente do sol que há pouco tinha nascido radiosamente e que me brindava com a sua magnânima luminosidade. Confesso uma clara influência do título de um filme que muito se parece com a frase, mas não deixa de ser um pensamento que me possuíu a mente durante todo o caminho até à cama e que traduz de certa forma o sentimento do momento.)

quinta-feira, março 02, 2006

Follow your gutt!

Ontem de noite estava com a fisgada de retomar a minha rotina dos últimos tempos e ir ver um filme ao cinema (ultimamente ando muito menos assíduo e tenho tanto filme por ver...). O plano era chegar a casa, largar o computer, fazer algo de comer e por uma roupa mais cómoda para o serão cinematográfico. Tudo bem até ao momento de fazer algo de comer. Quando a escolha é pouca entre coisas quase feitas, as possibilidades de combinações entre o que existe pela dispensa e pelo congelador tornam-se múltiplas e desafiantes. Fico completamente indeciso sobre o que fazer para agradar às minhas papilas gostativas quando tenho de decidir pela imensidão de combinações possíveis. E o chato disto tudo é que para ultrapassar esta indecisão levo mais tempo que para escolher um CD quando não sei o que me apetece ouvir - ou seja, uma eternidade. Mas a proximidade horária das sessões de cinema a que queria assistir obrigava a uma escolha por algo célere na concepção. O problema é que, mesmo às pressas, gosto de satisfazer as necessidades das papilas gostativas e não ficar pela solução mais simples.

Uma das soluções mais viáveis seria uma massa com alho e azeite... mas no jantar da véspera já tinha sido esse o manjar (com umas tiras de bacon frito à mistura) e queria dar-me ao luxo de variar um pouco. Assim sendo, e visto não ter mais bocas para satisfazer para além minha, podia sonhar alto em termos inventivos. Andavam perdidas há já algum tempo pela mesinha em frente ao sofá duas receitas de risotto que faziam crescer a vontade de experimentar algo do género sempre que as lia. Então estava tomada a decisão - vai de arroz! Alguns senãos se pôem:
1. em casa não tenho risotto (tipo específico de arroz próprio para confecção à moda italiana);
2. dos outros ingredientes da receita escolhida (risotto com cogumelos em detrimento de risotto com pato) muitos também não faziam parte da lista do que preenche a dispensa ou o congelador;
3. tempo... o arroz pede sempre algum tempo para se preparar para ser decentemente consumido e o cinema não estava longe de começar. O compromisso estava tomado e com alguma arte e mestria poderia sonhar com uma chegada em cima da hora à bilheteira; mãos à obra e toca a decidir o que utilizar para adornar o arroz (não risotto).

A receita de referência pedia arroz redondo carnaroli ou vialone nano (não há, vai de carolino), cebolas (check), echalotte picada (não há, aguente-se), alhos (check), vinho branco seco (não há aberto, vai do que está por acabar que é tinto mas servirá), cogumelos selvagens chanterelles e boletus (nunca ouvi falar destes dois, tenho uns champignons congelados e uns cogumelos secos chineses), caldo de galinha (com a gripe vou cortar da lista, até porque não tenho na mesma), manteiga (check), azeite virgem extra (virgem e/ou extra acho que não é mas é do nosso normal e é muito bom), queijo parmesão (também não há, mas tenho uma alternativa que gosto muito mais e que bate o parmesão aos pontos em qualquer lado - o nosso belo queijo da ilha), sal e pimenta (double check).

Dos cogumelos presentes, fiquei-me pelos champignons, porque os chineses precisavam de ficar de molho. Vão para o lume na frigideira de estimação coberta de azeite, bem alto o lume para evaporar toda aquela àgua dos fungos. Enquanto isso os alhos e as cebolas são picadinhos para o passo seguinte: fundir sem colorir numa caçarola de fundo grosso com azeite. Como não sou muito fã de lavar loiça, saltam os cogumelos da estimada frigideira depois de salpicados de sal e pimenta q.b., bem escorridos da gordura que ajudará a dar sabor aos ingredientes seguintes, as cebolas e os alhos. Neste caso dá-se prioriade aos senhores (alhos); as senhoras (cebolas) vão depois, para que elas não 'chorem' sobre eles e os deixem fritar decentemente como é de minha predilecção. 'Golo de Portugal!', oiço eu na sala a tv a gritar, vai de ver a repetição; na volta estão os senhores (alhos) corados de raiva por terem sido abandonados por instantes pela bola na rede. Melhor remédio para acalmar um senhor afrontado que uma senhora que se derrete para ele, não há! Cebolas à frigideira ASAP! Acalmam-se os ânimos e o tiritar que vem daquele leito escaldante acalma os meus piores receios - elas dominam e estabelecem paz na frigideira. Seguindo então; convoca-se o carolino antes que as coisas voltem a aquecer demais, cobre-se toda aquela azáfama com os bagos (sem medidas não sei se foi demais ou de menos, mas se sobrar não se desperdiça, se faltar, ataca-se algo mais depois) e pede-se ao azeite e à recém acrescentada manteiga que abracem calorosamente os novos membros daquela união. Entretanto, a falta do caldo de ave dava uma sensação de que a coisa ia ficar manca. Tendo em conta que o branco seco ia ser substituído por um tinto do alentejo, faria sentido mudar a cor do caldo também. Assim sendo, vai para o lume água com um pouco de caldo seco de tomate e ervas para depois amolecer o carolino. Depois de tentar seguir o tempo de fritura do arroz, é altura de juntar o néctar da uva, de forma a que se evapore. Mais uma vez a olho, pode ter ficado bêbado, mas reduz para o ponto certo e pode-se passar ao próximo passo - acrescentar gradualmente o caldo. Dito e feito, vai uma porção do caldo começar a cozer os bagos e a suavizá-los para o dente. Como estou a utilizar a estimada frigideira (de área mais ampla que uma caçarola) tenho de me precaver para que o caldo não se escape todo pelo ar antes de conseguir actuar da forma desejada, e para isso tenho de 'fechar a porta' ao vapor com uma tampa. Assim que se vai embora a primeira leva de caldo, chega a segunda. Na receita diziam para acrescentar, antes da última dose de caldo, os cogumelos salteados, mas pareceu-me que iam apanhar muita água e que perderiam a crosta ganha no azeite, por isso atrasei essa incorporação para meio da última leva de caldo. Entretanto já tinha ralado o cheiroso queijo de S. Jorge e preparava já tudo para encerrar o lume. De acordo com o receitado, acrescentar mais manteiga e azeite (desta feita o azeite foi um com sumo de limão e alho) no final do arroz estar al dente, e no final polvilhar com o queijo. Estava pronto para ser devorado! E que bem que soube. Não sei se pelo prazer de inventar, se pelo tempo de o confeccionar e ganhar mais apetite, a verdade é que a experiência e a adaptação da receita não me pareceu má de todo. De todo!

Lembrei-me entretanto que ao tentar evitar a repetição do manjar da noite anterior (massa) fui levado a repetir o ingrediente principal do almoço do dia (arroz de peixe), mas naquele momento já não ouvia as lembranças mas sim os instintos. E que bem que sabe seguir o instinto de quando em vez. Olhei para o relógio e reparei que enquanto ainda estava a meio do meu risotto, ainda faltava algum tempo para o início das sessões de cinema, mas estava tudo a saber tão bem que resolvi fugir ao regresso à rotina e aproveitar para fazer as coisas sem pressas. Passada que estava a degustação, veio o sacrifício de limpar a cozinha e lavar a loiça... mas com um pouco de ânimo ganho com tudo o que me trouxe até aqui, uma pitada de força de vontade para levantar do sofá, ponho as mãos na água e trato do assunto celeremente. O cinema fica para outra oportunidade. E a noite de sono será melhor com um estômago bem tratado, as papilas satisfeitas e o instinto realizado.

quarta-feira, março 01, 2006

Sacudindo o pó acumulado

De volta ao meu ultimamente abandonado espaço...
Faço um enorme mea culpa por ter andado desaparecido, mas tanto as obrigações profissionais como as ocupações sociais não têm dado ânimo ou descanso suficiente para vir aqui e largar umas ideias. Os últimos tempos têm sido muitíssimo movimentados e sem grandes espaços para dar asas à imaginação blogueira, mas acima de tudo, imensamente desgastantes fisicamente. Não sabia muito bem para onde me virar, mas acho que me safei minimamente bem. Aproveitando o contexto das festividades que passaram, espero que não levem a mal, afinal foi carnaval (e não só).