quinta-feira, março 16, 2006

Once again in my mind through my eyes

Ontem à noite foi noite de taça de portugal, em que o benfica jogou com o vitória e o jogo foi transmitido no primeiro canal. Já no dia anterior e nessa manhã havia dito aos meus colegas que este jogo era para perder, e de facto confirmou-se o meu prognóstico. Infelizmente. Preferia acertar na lotaria ou pelo menos errar nestas previsões. Mas são assim as coisas. Felizmente, antes de me começar a entusiasmar com a bola (até estávamos a pressionar e com possibilidades de ganhar o jogo), mudei para outro canal onde fiquei frozen porque aos meus olhos se mostrou um filme que eu... gosto muito (para simplificar as coisas). Já vi o filme umas (sem qualquer tipo de exagero) quinze vezes. Sempre que o filme passa na televisão, e normalmente apanho-o por acaso, sem saber que estava na programação, fico preso a vê-lo.

O filme é Starship Troopers do Paul Verhoeven. É um filme de ficção científica razoavelmente básico, sem nenhuma mensagem subjacente fortemente marcante, basicamente um action movie com muitos tiros, muito sangue, muitos mortos (entre humanos e insectos, os dois exércitos em confronto). Mas não consigo resistir e fico sempre a assistir ao filme com uma atenção apaixonante, todas as vezes sem excepção. Acho que não posso comprar o DVD do filme senão acabava a minha vida a vegetar em frente à televisão com o disco já em chamas. Há imensos outros filmes muito mais interessantes e com uma história mais sólida e mais desafiantes mentalmente, visualmente, tudo... Este filme em muitos aspectos é tão básico e tão pobre que é um verdadeiro paradoxo este meu fascínio. Mas talvez seja por isto tudo que eu fico agarrado a ele. Ou então é tudo uma análise imensamente superficial do que se passa à frente dos meus olhos e se calhar há mesmo uma mensagem bem construída e marcante no filme. O filme está longe (muito até) de ser mau, quer a nível de realização, de desempenho dos actores ou da história, mas a ideia que tenho é que não é nada de fora do vulgar. Sinceramente não me interessa, só sei que fico especado a ver o filme, que se voltar a deparar-me com ele, hei-de ficar de novo, que isso me dará um gozo imenso e que não ficarei com qualquer tipo de remorso por estar a perder o meu tempo com um filme visto e revisto e re-revisto...

Há outro filme do género que também devoro em quantidades industriais, Dune do David Lynch. Neste aqui já vejo mais complexidade evidente, mas se calhar estou a ser engando pelo aspecto gráfico do filme ou pelo nome do realizador ou por qualquer outra coisa no meu inconsciente. Também já o vi diversas vezes e sempre com mais vontade. Tanta que caí no erro que me ia desfazendo todas as boas memórias que tenho dele. Não sou cliente de nenhum video-clube, mas a minha avó é. E quando fui uma vez passar um fim de semana com ela, fui ao video-clube dela para alugar um filme e o que é que eu vejo nas prateleiras... a sequela do Dune. Peguei nele e, tal criança maravilhada por ver um prolongamento dos seus sonhos, resolvi levá-lo para casa para me deliciar com a continuação do meu tão caro filme. Claro que não era do mesmo realizador, não eram os mesmo actores, mas resolvi dar o benefício da dúvida, abrir os meus olhos e saciar as minhas expectativas. E porquê condenar à partida um filme só porque não tem ninguém conhecido à frente ou atrás das cameras? Também existem coisas boas vindas de lugares desconhecidos. E afinal até há um nome conhecido (William Hurt). Mas o desastre não demorou muito a chegar, bastou a cassete começar a rodar. A introdução ao filme deixa adivinhar algo de menos bom, as primeiras imagens concretizam as suspeitas. O aspecto a algo próximo do grafismo das séries de televisão que passavam aos fins de semana e que tanto me arrepiava ver quando fazia zapping a meio da tarde (Xena, Hércules e afins) destruíu por completo a minha esperança de algo minimamente próximo do filme do Lynch. De qualquer forma vi o filme, tentei relacionar com o original e voltei ao video-clube para alugar a terceira parte (havia mais uma quarta). Mas a capacidade de suportar tal obra de ficção não foi mais forte que o entediamento e rapidamente caí no sono. Podia estar cansado, mas mesmo que quisesse não conseguia digerir aquela história. Fui entregar o filme, sem sequer por a hipótese de tentar ver de novo, e nem pensei no que tinha ficado por ver. Vim mais tarde a perceber que as sequelas que eu tinha alugado eram mesmo uma série de televisão compilada em vários tomos para distribuição de aluguer, que daria seguimento à história do filme, mas para mim tornou-se em algo de completamente desligado. E só esquecendo qualquer tipo de ligação entre as duas obras é que consegui esquecer as posteriores e contentar-me com o filme. E daí em diante gozo o filme como algo que tem um fim em si mesmo e que, por muito que eu deseje continuar a seguir a história que fica em aberto, deixo de lado as tentativas já feitas e fico-me pelos filmes que posso fazer na minha cabeça.

Com o gozo tirado do Starship Troopers nem me pesou a derrota sofrida (e prevista em premonições) pelo benfica, fiquei pelo sofá a ressacar do bem-estar trazido pelo filme e comecei a ver um jogo de futebol no canal da memória entre o benfica e o leverkusen, de 1994, creio. Sei que houve um jogo por volta desses anos que foi considerado um jogão fenomenal. O benfica bateu-se com uma equipa, creio que alemã, mas não sei qual, num jogo que foi um elogio ao futebol. Sei que perdi esse jogo na altura e desde então que tenho ganas de o tentar ver. Foi na expectativa de ser o que estava a passar naquela altura, que fiquei mais uma hora e tal preso à televisão. Mas pelas crónicas que recordo, foi um jogo com mais que um 1-1 no placard final, e até creio que foi jogado fora de casa, o que me leva a pensar que afinal não foi o jogo que fiquei a assistir. Continuo então em busca de apanhar esse jogo, no canal da memória, ou que alguém que o tenha gravado me empreste (sei que ouvi alguém dizer que o tinha gravado, mas já não retenho quem).

Resumindo, há coisas que podemos abdicar mesmo que pensemos que sejam fulcrais, há coisas que não nos fartamos e que nos completam de cada vez que delas disfrutamos, há outras que ansiamos mas que nos deitam tanto abaixo que mais valia termos abdicado delas, há ainda outras que perseguimos uma vida inteira mas que podemos nunca as ter.

See you soon

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