sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Ainda há Carnaval?

Estranhamente, e ao contrário do que costumo fazer durante os fins de semana e os feriados festivos, esta época de carnaval não foi uma época de folia e de borga. Não que algum acontecimento menos feliz me tenha levado a ficar mais reservado nas minhas actividades noctívagas; pura e simplesmente a disposição era outra. E já teria havido uma espécie de preâmbulo no fim de semana anterior. Acho que será um pouco cansaço (acho também que ainda não será saturação, assim o espero) e também o conjugar de algumas condicionantes que me levaram a ter programas mais recatados nestes dias.
No entanto isto também me trouxe à mente outras memórias e outros pensamentos. Das minhas reflexões e de conversas com amigas, surgiram do baú das memórias lembranças doutros tempos, de tempos em que o carnaval era celebrado de outra forma, mais 'nossa' e mais próxima das pessoas.
Confesso que me irrita um pouco toda a festa que se faz (agora) cá para o carnaval. Não acho que faça muito sentido que o carnaval em Portugal seja uma tentativa de imitação da festa que se faz no Brasil. Acho giro que as festas no Brasil sejam como são, toda aquela música (samba) e todo o espectáculo de cores e corpos, mas para além de não ter paciência para aturar aquilo mais que uns minutos, fico completamente insatisfeito quando tenho de levar com uma dose do mesmo (ou uma fraca tentativa de cópia) em qualquer lado que se festeje o carnaval em Portugal. Acho que nem mesmo a gigante quantidade de cidadãos das terras de Vera-Cruz justificaria que Portugal importasse tão massivamente os costumes do lado de lá do Oceano. Acharia normal que existissem alguns focos pelo país onde isso acontecesse, mas o que é verdade e o que me entristece é que nem é o brasileiro que tenta recriar e impor o carnaval á sua maneira cá, é o português que deve pensar que tem sangue brasileiro e que nesta altura do ano faz tanto calor cá como lá para poder andar para aí a tentar sambar tal como os nossos irmãos brasileiros o fazem no país deles (e com o clima deles e com o jeito deles para esta festa). Se calhar o português achou que comprar viagens para o Brasil na época de carnaval era demasiado caro comparando com outras épocas do ano e pensou que seria mais barato fazer a festa cá? Enfim, é apenas a minha opinião.
Mas o que eu queria lembrar era outros carnavais. Surgiu uma certa nostalgia sobre os carnavais que vivi quando era pequeno quando comecei a pensar sobre tudo isto e a falar com outras pessoas sobre o assunto. Não digo que aquilo fossem os carnavais à portuguesa, mas foram os carnavais que eu gostei imenso de disfrutar. Não tinham samba (no máximo tinham músicas do Roberto Carlos como o Calhambeque), não tinham máscaras exóticas onde o corpo fica mais de metade à mostra (estaríamos até bastante cobertos com trajes de árabes, super-heróis, princesas, palhaços, príncepes, polícias, índios, etc...) mas eram tão divertidos... Havia todo o tipo de apetrechos que se calhar hoje em dia já não seriam muito seguros (na óptica politicamente correcta das normas da CEE) tais como pistolas de fulminantes, bombinhas de mau-cheiro, bombinhas chinesas e afins, bisnagas, balões de água, ovos podres e farinha... tudo o que servisse para brincar ao carnaval! E era isso que era fantástico - a brincadeira que fazíamos no carnaval entre todos. Poderia ter sido por ser criança na altura, mas acho que não era essa a única razão. Tenho uma ideia minimamente clara que não eram só as crianças que brincavam ao carnaval, eram todos os que se reuniam, pais, tios, avós, amigos; toda essa gente participava da brincadeira e eram festas onde todos podiam ser mais uma vez crianças.
Parece que tudo isto se passou noutra realidade. Foi um tempo que as coisas pareciam mais inocentes e mais belas (aqui assumo que já será uma leitura do que foi a minha infância, certamente essa inocência não seria visível aos olhos de outros mais crescidos na altura). E acho que é isso que nos é transmitido sempre que ouvimos histórias de quando eramos novos (neste caso o eramos é relativo ao narrador e não necessariamente ao ouvinte). Ouvir os nossos pais, tios, avós ou outros mais velhos a relembrarem os seus tempos de criança ou de adolecentes transporta-nos de uma forma mágica para lá, como se estivéssemos a ver um filme diante dos nossos olhos, em que as coisas parece que acontecem com uma ordem harmoniosa e irradiam boas vibrações. Será que é uma condição obrigatória e incondicional que estes momentos desapareçam das nossas vidas conforme vamos crescendo e que passem a ser meramente lembranças de outros tempos? Ou conseguiremos nós ter para sempre uma criança dentro de nós que consiga disfrutar desses momentos mesmo quando por fora já somos tudo menos crianças? Talvez dependa da forma como cada um de nós encara a própria vida e o dia a dia que enfrenta.

1 comentário:

Anónimo disse...

Olá, agora acho que o meu empurrão no sentido de escreveres algo assim não foi má ideia, nunca foi mal intencionado, nem mesmo partida de carnaval, apenas me alegro por não ter sido um empurrão para o abismo, foi só para um montão de almofadas. Espero que o teu dia de aniversário tenha sido feliz, que tenhas dado umas gargalhadas, como certamente em criança, junto da tua familia. Espero que nunca tenhas dores nas mãozinhas para que continues a escrever sem sacrificio.
Beijinhos
Margarida